Fonte: Gazeta do Povo
Minha experiência de 41 anos dentro de escolas públicas e privadas,
em todos os níveis, indica que cerca de 15% da comunidade de alunos,
pais, professores e funcionários é capaz de comprometer a administração
escolar e o precioso tempo dos gestores. É onde está o ninho da
serpente, fonte precípua dos conflitos e aborrecimentos.
No entanto, são adultos, adolescentes ou crianças que necessitam da
orientação dos educadores. É óbvio que os outros 85% têm demandas,
cobranças e pontualmente geram desavenças, mas se enquadram dentro da
normalidade. Como reduzir os conflitos? Elenco alguns motes ou regrinhas
de ouro.
A primeira recomendação é difundir a cultura de que a diversidade é
uma riqueza. Isso torna o ambiente escolar mais amistoso e menos
conflituoso. Somos diversos, porém não adversos.
É preciso também combater diuturnamente o bullying, uma das
principais fontes de desavenças entre alunos. A intensidade do bullying
indica o quanto moralmente a escola está comprometida. É
responsabilidade dos gestores e professores criar duas frentes de
combate: prevenção e ação. É preventiva a implementação de uma cultura
de respeito, tolerância e aceitação de que somos diferentes, sem
esquecer da ação vigilante, proativa e punitiva sobre os agressores.
É preciso atacar o problema no nascedouro, antes que a marola vire
uma tsunami. No início de uma contenda, o mediador deve aliviar a tensão
com um toque de humor ou com uma frase de efeito, como a clássica de
Shakespeare: “A tragédia começa quando os dois lados acham que têm
razão”.
Encarar o problema de frente e não apenas tangenciar é uma
necessidade. Mergulhar fundo. Muitas vezes, temos de contar com o
decurso dos dias. O travesseiro é um bom conselheiro.
Também é necessário minimizar as posturas antagonistas de alguns pais
– como se família e escola em trincheiras opostas estivessem. A escola
erra sim e a família também. A tolerância ao erro, dentro de certos
limites, é uma virtude e um aprendizado para a vida adulta. Sigmund
Freud bem assevera: “Educar é uma daquelas atividades em que errar é
inevitável”.
Ser bom ouvinte é qualidade indispensável. A natureza nos concedeu
uma boca e dois ouvidos. A mensagem anatômica é explícita: ouça os dois
lados e fale menos. É comum, nos arranca-rabos entre alunos, haver duas
versões antagônicas. E, quando a versão contraria os fatos, a primeira
vítima é o fato.
A hierarquia e a disciplina, requisitos indispensáveis para uma boa
organização, precisam ser mantidas. Ao não punir convenientemente os
alunos, os gestores e professores pensam que estão sendo liberais. No
entanto, então sendo concessivos, bonzinhos, e a futura vida
profissional cobrará de nossos alunos respeito às normas e à hierarquia.
A escola é um laboratório para a vida adulta.
A normatização tem papel importante na escola, que necessita de uma
boa rotina e, para tanto, de regras bem estabelecidas e bem cumpridas.
Fazem parte de uma boa rotina professores pontuais e com boa didática,
funcionários solícitos, suporte tecnológico que funciona, banheiros e
corredores asseados.
E, por fim, é preciso transmitir valores. O educando precisa de um
projeto de vida. Desde pequeno, é importante que desenvolva valores
inter e intrapessoais, como ética, cidadania, respeito ao próximo,
responsabilidade socioambiental e autonomia, o que enseja adultos
flexíveis e versáteis, que sabem trabalhar em grupo, abertos ao diálogo,
às mudanças e às novas tecnologias. De todas as virtudes, a mais
importante é a solidariedade: base das relações sociais e a partir da
qual se fundamenta uma convivência pacífica.
Jacir J. Venturi, diretor de escola, professor, palestrante e
autor de livros, é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do
Paraná (Sinepe/PR).
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