quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A gestão escolar e a mediação dos conflitos na escola

 Fonte: Gazeta do Povo

Minha experiência de 41 anos dentro de escolas públicas e privadas, em todos os níveis, indica que cerca de 15% da comunidade de alunos, pais, professores e funcionários é capaz de comprometer a administração escolar e o precioso tempo dos gestores. É onde está o ninho da serpente, fonte precípua dos conflitos e aborrecimentos.
No entanto, são adultos, adolescentes ou crianças que necessitam da orientação dos educadores. É óbvio que os outros 85% têm demandas, cobranças e pontualmente geram desavenças, mas se enquadram dentro da normalidade. Como reduzir os conflitos? Elenco alguns motes ou regrinhas de ouro.
A primeira recomendação é difundir a cultura de que a diversidade é uma riqueza. Isso torna o ambiente escolar mais amistoso e menos conflituoso. Somos diversos, porém não adversos.
É preciso também combater diuturnamente o bullying, uma das principais fontes de desavenças entre alunos. A intensidade do bullying indica o quanto moralmente a escola está comprometida. É responsabilidade dos gestores e professores criar duas frentes de combate: prevenção e ação. É preventiva a implementação de uma cultura de respeito, tolerância e aceitação de que somos diferentes, sem esquecer da ação vigilante, proativa e punitiva sobre os agressores.
É preciso atacar o problema no nascedouro, antes que a marola vire uma tsunami. No início de uma contenda, o mediador deve aliviar a tensão com um toque de humor ou com uma frase de efeito, como a clássica de Shakespeare: “A tragédia começa quando os dois lados acham que têm razão”.
Encarar o problema de frente e não apenas tangenciar é uma necessidade. Mergulhar fundo. Muitas vezes, temos de contar com o decurso dos dias. O travesseiro é um bom conselheiro.
Também é necessário minimizar as posturas antagonistas de alguns pais – como se família e escola em trincheiras opostas estivessem. A escola erra sim e a família também. A tolerância ao erro, dentro de certos limites, é uma virtude e um aprendizado para a vida adulta. Sigmund Freud bem assevera: “Educar é uma daquelas atividades em que errar é inevitável”.
Ser bom ouvinte é qualidade indispensável. A natureza nos concedeu uma boca e dois ouvidos. A mensagem anatômica é explícita: ouça os dois lados e fale menos. É comum, nos arranca-rabos entre alunos, haver duas versões antagônicas. E, quando a versão contraria os fatos, a primeira vítima é o fato.
A hierarquia e a disciplina, requisitos indispensáveis para uma boa organização, precisam ser mantidas. Ao não punir convenientemente os alunos, os gestores e professores pensam que estão sendo liberais. No entanto, então sendo concessivos, bonzinhos, e a futura vida profissional cobrará de nossos alunos respeito às normas e à hierarquia. A escola é um laboratório para a vida adulta.
A normatização tem papel importante na escola, que necessita de uma boa rotina e, para tanto, de regras bem estabelecidas e bem cumpridas. Fazem parte de uma boa rotina professores pontuais e com boa didática, funcionários solícitos, suporte tecnológico que funciona, banheiros e corredores asseados.
E, por fim, é preciso transmitir valores. O educando precisa de um projeto de vida. Desde pequeno, é importante que desenvolva valores inter e intrapessoais, como ética, cidadania, respeito ao próximo, responsabilidade socioambiental e autonomia, o que enseja adultos flexíveis e versáteis, que sabem trabalhar em grupo, abertos ao diálogo, às mudanças e às novas tecnologias. De todas as virtudes, a mais importante é a solidariedade: base das relações sociais e a partir da qual se fundamenta uma convivência pacífica.

Jacir J. Venturi, diretor de escola, professor, palestrante e autor de livros, é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).



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